domingo, 6 de junho de 2010

A Vida Passa



Estava rápido demais, segundo a minha própria percepção denunciava. As árvores eram borrões a sujar minha visão. As coisas passavam depressa. A vida passava depressa. Mas o tempo não. O tempo sempre conseguia ser soberano, e exibia um vil prazer em torturar.

Mais rápido. O vento feria meu rosto, mas me privava do trabalho de secar as lágrimas que agora escorriam livremente. Minha visão estava embaçada, ainda que eu devesse ao menos estar prestando atenção na estrada.

Mais uma vez me via naquela tênue linha que dividia a lucidez e a loucura. E não pretendia sair dali.

Mais rápido, dizia a mim mesmo.

A vida passava.

A vida passava e eu me dava conta que o tempo também passava, sutilmente. E o vendo agora era a minha constante, e aonde eu iria, seria meu único amigo.

Mais rápido, sussurravam vozes em meus ouvidos.

A noite caiu, e eu tive de acender os faróis. Foi estranho reconhecer minha voz enquanto eu falava com impressões de minha mente.

Mas estava só. Sem perspectiva, mas com várias palavras em mente. Palavras que perdiam a importância gradativamente.

Mais rápido, falou a noite, e as luzes agora passavam por mim uma a uma. Mais rápido, falaram elas, e tornaram-se uma só.

O tempo passa. E a vida passava, e uma hora acabava.

Mas eu não queria acabar com a minha fugindo. Fugindo da minha própria vida.

Devagar, disse Jason.

Não, eu não ia acabar fugindo do meu passado. Fugindo de um nome e de todos os que poderiam pronunciá-lo. Fugindo a duzentos quilômetros por hora, para lugar nenhum, onde nem eu mesmo pudesse me achar.