domingo, 6 de junho de 2010

A Vida Passa



Estava rápido demais, segundo a minha própria percepção denunciava. As árvores eram borrões a sujar minha visão. As coisas passavam depressa. A vida passava depressa. Mas o tempo não. O tempo sempre conseguia ser soberano, e exibia um vil prazer em torturar.

Mais rápido. O vento feria meu rosto, mas me privava do trabalho de secar as lágrimas que agora escorriam livremente. Minha visão estava embaçada, ainda que eu devesse ao menos estar prestando atenção na estrada.

Mais uma vez me via naquela tênue linha que dividia a lucidez e a loucura. E não pretendia sair dali.

Mais rápido, dizia a mim mesmo.

A vida passava.

A vida passava e eu me dava conta que o tempo também passava, sutilmente. E o vendo agora era a minha constante, e aonde eu iria, seria meu único amigo.

Mais rápido, sussurravam vozes em meus ouvidos.

A noite caiu, e eu tive de acender os faróis. Foi estranho reconhecer minha voz enquanto eu falava com impressões de minha mente.

Mas estava só. Sem perspectiva, mas com várias palavras em mente. Palavras que perdiam a importância gradativamente.

Mais rápido, falou a noite, e as luzes agora passavam por mim uma a uma. Mais rápido, falaram elas, e tornaram-se uma só.

O tempo passa. E a vida passava, e uma hora acabava.

Mas eu não queria acabar com a minha fugindo. Fugindo da minha própria vida.

Devagar, disse Jason.

Não, eu não ia acabar fugindo do meu passado. Fugindo de um nome e de todos os que poderiam pronunciá-lo. Fugindo a duzentos quilômetros por hora, para lugar nenhum, onde nem eu mesmo pudesse me achar.

sábado, 29 de maio de 2010

Bam: Prólogo


Nasci em vinte e um de fevereiro de 1970. Meus pais disseram-me que eu não queria vir ao mundo. Tenho algumas teorias sobre o porquê, mas isto não é assunto para agora.

Até meus oito anos, eu não tive uma vida digna de narração. Morava em uma pequena cidade chamada Eyrie no sul da Califórnia. Meus pais eram Selena e John, uma costureira e um cara que fazia qualquer coisa que aparecesse pela frente. Era uma criança comum, como qualquer outra: Repleto de amigos, alegre, talvez um pouco distraído demais.

Tive uma vida pacata de cidade pequena, às vezes íamos ao parque e às vezes visitávamos meus tios numa cidade vizinha. Não posso reclamar de primeira infância conturbada.

Foi assim até a madrugada do primeiro dia de setembro, um dia antes do primeiro dia de aula quando eu ingressaria na terceira série, em que eu acordei de súbito.

Examinei meu quarto, olhando pros lados. Ele cheirava a madeira e a aposento abafado. Meu quarto ficava embaixo da escada que levava ao segundo andar, era muito apertado e escuro, pois só tinha uma janela que eu nunca abria. As paredes de madeira eram repletas de desenhos meus, pregados. Havia apenas uma cama, um armário de roupas, e alguns brinquedos velhos, com os quais eu nem brincava mais.

Outra pessoa desceu a escada, seguindo a que me acordara com seus passos pesados. Ela sussurrava coisas incompreensíveis, mas num tom de súplica.

Pé ante pé andei até a porta e abri uma fresta, observando o que ocorria na sala, diretamente a frente do meu quarto. Corria um vento frio pelo meu corpo quase despido, e eu tremi.

Meus pais estavam lá. Selena sussurrava, enquanto papai rosnava raivoso. Selena era uma mulher baixinha, de cabelos castanho-claro, presos em um coque na nuca. Seus olhos eram pequenos e inexpressivos, e seu corpo já não tinha tantas curvas, apesar de seus humildes vinte-para-trinta anos.

John era um homem muito alto, um gigante em comparação à Selena. Ele tinha cabelos cor de palha, dispostos para todos os lados. Seu rosto era jovial, e sua pele bronzeada. Seu corpo era forte, e suas feições grosseiras, marcadas por rugas e linhas de expressões já acentuadas.

-Há quanto tempo? – Sibilou John.

-John, por favor... – Disse Selena, baixando os olhos.

-Eu perguntei: - Ele aproximou-se e erguendo perigosamente sua mão, segurou o queixo de Selena, levantando seus olhos até que encontrasse os dele. – Há quanto tempo? – Completou, cuspindo as palavras com uma raiva incoerente.

-Dois meses... – Sussurrou ela.

John a largou com certa brutalidade, livrando-a de seu aperto e afastou-se, virando-se para o outro lado.

Ele pôs uma mão na cintura e outra na testa, desamparado. Selena agora chorava abertamente, enquanto eu observava a cena, petrificado.

-Ele já esteve aqui, não? Enquanto eu trabalhava, ou enquanto eu saía com os meus amigos? Ele já esteve aqui?! – Perguntou ele, gritando a última questão.

-Não sei, talvez... – Ela parou quando ele se aproximou em um passo largo, levantando a mão. – Sim, já esteve! – Mas John desceu a mão antes que seu cérebro processasse o que Selena dissera, acertando-lhe um tapa no rosto, que a desequilibrou, e a fez cair na frente de um sofá, impedindo-me de vê-la. Ela abafou um grito, e começou a chorar como nunca.

-Cadela! Meretriz! Vadia! É o que você é, sua canalha! – Disse ele, massageando sua mão. – Você não vale a comida que eu ponho na mesa, o dinheiro que eu trago pra casa! Robert vai comigo, ah vai!

-Você vai ir para onde? – Perguntou Selena em um sussurro quase inaudível. Meu coração doeu quando notei que ela não se preocupou em defender minha estadia junto a ela.

-Você esperava que eu ficasse aqui, após saber que você me trai há dois meses?! – Disse, encarando-a com um olhar feroz. – Você é ridícula!

-E Robert? Você vai trabalhar o dia inteiro, e... Você não tem uma casa...

-Eu devia ficar com esta casa, e você sabe disso! – Disse John, estalando os nós dos dedos. – Mas eu não quero esta casa, cheia de você, e de seu amante. Como eu poderia sentar neste sofá de hoje em diante, sabendo que está impregnado de... – Ele não completou a frase, apenas respirou fundo.

Selena notou sua hesitação, e achou que a conversa estava tomando um rumo mais calmo, e tentou se levantar. Mas John só estava tentando controlar sua fúria, e quando ela começou a se movimentar, ele ergueu sua mão mais uma vez, e mais uma vez desceu pesadamente em seu rosto, repetidas vezes, até que Selena começasse a gritar por seu perdão, e de dor.

Ele não parou, até que sua mão subiu com sangue. E eu estava observando tudo aquilo, estupefato. Minha mente estava confusa, e eu não sabia se gritava para que ele parasse, ou se eu me escondia, como se nada houvesse acontecido. Mas não fiz nada. E de certo modo me senti culpado por causa de minha mãe e de meu pai terem se separado.

Não consegui dormir àquela noite, enquanto eu ouvia meu pai pegar suas roupas, objetos de maior importância, e tudo o que ele quisesse, socando em uma mala. Fingi que estava dormindo, quando ele entrou no meu quarto, inclinou-se sobre mim, e beijou minha bochecha. Senti sua mão abrindo espaço por baixo do meu travesseiro, e depois ele tirou-a rapidamente. Ele saiu em passos lentos, hesitantes, e fechou a porta com cuidado. Ouvi a porta da frente de casa abrir e fechar, e meu pai entrar no seu carro, ligando o motor, e indo embora.

Ouvia minha mãe chorar em guinchos baixos.

Quis que aquilo parasse, mas não conseguia ao menos tapar meus ouvidos. Não dormi aquela noite.

Um pouco antes de amanhecer, minha mãe estava movimentando-se incessantemente, arrumando a esculhambação do dia anterior, e limpando a sala. Ela não queria que eu soubesse de nada.

Quando ela bateu na minha porta, na primeira hora da manhã, eu demorei um pouco para me levantar, e me vestir.

Abri a porta do meu quarto, e minha mãe estava lá. Seu cabelo estava penteado, no mesmo coque de sempre. Seu rosto estava repleto de hematomas horríveis, e um olho seu estava inchado. Ela tinha um corte nas têmporas, e sua boca ainda apresentava resquícios de sangue seco.

-Mamãe...? – Perguntei, com a voz fraca. – O que aconteceu com você? – Hoje eu me pergunto por que eu escondi o fato de eu ter presenciado tudo aquilo. Eu era uma criança, portanto a idéia de eu ter compreendido tão bem o que ocorrera à noite, hoje me deixa transtornado. Eu acho que a convivência com meus pais – perturbados – me levou a amadurecer precocemente, mas nada como a imagem de meu pai espancando minha mãe, e nos deixando.

-Eu caí. – Disse ela, com um sorriso tão doce quanto bobo. – Seu pai sempre dizia que eu acabaria caindo desta escada, e foi o que aconteceu. – Ela engoliu em seco, e falou. Falou por meia hora numa linguagem excessivamente doce, que meu pai fora viajar, e que não sabia quando voltaria, e que não era para eu esperá-lo. Ela disse que ele me amava, mas que talvez não pudesse mais vê-lo. Assenti em silêncio, e me segurei pra não chorar.

Antes de ir para o colégio, eu pus a mão embaixo do travesseiro, e encontrei um pedaço de papel amassado. Quando o desamassei, li as palavras escritas em uma caligrafia dura e desalinhada:

"Volto por você. Te amo, Bam."


OMG, prólogo do meu livro que eu estou finalizando!

domingo, 23 de maio de 2010

Diante do Imprescindível


E a vida continua, ela sempre continua. Basta a gente pedir um tempo pra respirar que ela nos atropela.

Ela é arrebatadora. Ela não pede licença. Ela só segue seu curso e não se importa se a estamos acompanhando ou não.

É implacável. É fria. Ela não dá tapinhas nas suas costas dizendo que tudo vai ficar bem, por que no fim das contas ela sabe que não vai.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Como Costumava Ser



Às vezes a vida não faz tanto sentido quanto devia fazer. Às vezes eu acho que eu tenho muito a dizer pro mundo, mas que o mundo não me entenderia. E mesmo que me entendesse, quem estaria disposto a me ouvir?

Mas eu quero falar, ainda que cada vez mais eu me sinta impelido à não fazê-lo; Por que um dia a gente cresce, e vê que as pessoas aprendem tudo, de um jeito ou de outro. Mas eu sou impaciente.

Eu sou mal-entendido, sou hostilizado, sou o alvo perfeito. Sou reprimido. Sou egoísta por me achar tão à frente do meu tempo, mesmo no fundo sabendo que eu não sou.

E o que mais me dói é saber que não basta ser você para ser alguém. Você tem que ser várias pessoas, você tem que ser vítima das circunstâncias, você tem que ser um produto do seu tempo e uma síntese das tendências. Isso se você quiser ser alguém.

“Qualquer coisa que você faça será insignificante, mas é muito importante que você o faça.”

E eu penso na identidade que eu venho criando. Nas atitudes que eu venho tomando. E mais uma vez eu acordo pra realidade, e noto que eu sou inseguro, inseguro por não me conhecer totalmente. Inseguro por não ter a capacidade de visar um futuro.

Há muito tempo substituí minhas esperanças por medos, e meus sonhos por planos.

Tudo o que eu queria era ter coragem pra jogar tudo pro alto. Tudo de bom e de ruim que eu já construí eu deixaria pra trás, só pra ter a chance de começar tudo de novo, levando comigo uma mala com o estritamente necessário, e um bocado de esperança e muita ilusão;

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mais Pesado Que o Céu


Lembro de um tempo em que o inocente comprometimento com o comprometer moveu multidões.

Lembro de um sentimento ardente, uma sede insaciável por compreensão. Ainda lembro daquela gente que só queria ser entendida.

Lembro de um dia em que todas as vozes se uniram em uma só canção. Lembro de nuvens negras encobrindo o sol.

Uma estrela sumiu no horizonte, uma geração inteira fehou os olhos e prendeu a respiração enquanto não entendia ao certo o que havia acontecido. Enquanto não entendiam que o mundo havia mudado para sempre.

Lembro do dia em que anjos trocaram suas liras por guitarras, e lembro de tudo isso com o coração pesado.

Há dezesseis anos morria Kurt Cobain, um genuíno ser humano, com suas muitas fraquezas, com seus inúmeros sonhos, e com um grande coração que aos poucos ia perdendo o seu valor.

Um homem simples, um homem conturbado, alguém que não estava preparado para suportar tudo o que a vida lhe impusera. Alguém que preferiu queimar em uma chama, a dissipar-se aos poucos.

Alguém que despertou minha admiração, alguém que tocou profundamente meus sentimentos.

Paz, amor, empatia.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Os Últimos Dias dos Riquixás


Para modernizar sua imagem, Calcutá – atual Kolkata – está banindo um importante símbolo do passado colonial da índia.

Algumas vezes, em meio ao mar de buzinas e gritos, se ouve um sino. O que se vê, de fato é um riquixá: Ao invés de ser puxada por um cavalo ou outro animal, uma carroça era conduzida por um homem – em geral raquítico, encardido e descalço, parecendo pouco apto a tarefa.

Kolkata ainda é muito associado e lembrado à Madre Teresa de Calcutá – grande defensora dos oprimidos, sempre lutando por causas sociais – e por isso associam a cidade com miséria e pobreza, quadro que está sendo revertido em passos muito lentos.
Foram anos marcados por apagões, desemprego, fuga de indústrias e violência.

Ainda existe muita gente dormindo nas ruas, mas a cidade mudou.
Para adaptar à cidade à imagem de “cidade moderna” que quer passar, o governo pensa em eliminar os riquixás puxados a mão, alegando razões humanitárias e principalmente por que é ofensivo ver “um homem suando e se esfalfando para puxar outro homem”. Mas hoje em dia, os políticos também lamentam o impacto de 6 mil desses riquixás no tráfego de uma cidade moderna, e, sobretudo em sua imagem.

O povo – não pobre, mas que está a dois dedos acima da pobreza, que não pode bancar um táxi mas já pode se privar de andar a pé pela cidade – é que usa os riquixás. É gente que costuma fazer trajetos curtos, por travessas que às vezes são inacessíveis aos taxistas.

Um Wallah (puxador de riquixá) pode fazer entre 100 e 150 rúpias por dia, das quais têm que pagar 20 pelo uso do riquixá e eventuais 75 rúpias de propina quando é parado pela polícia quando, por exemplo, cruzou uma rua proibida para riquixás.

Quando algum Wallah é perguntado se ele acha que o plano do governo de livrar a cidade dos riquixás se baseia num legítimo interesse pelo bem-estar deles, ele sorri e acena a cabeça, gesto a ser interpretado como “Se você é tão ingênuo a ponto de fazer uma pergunta dessas, não vale apena gastar palavras com uma resposta.”


Baseado em uma reportagem homônima do National Geografic (again?)


(E agora, por que eu postei isso, não é mesmo?)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Coração Cigano



Algum dia eu vou entender que eu não estou sozinho no mundo. Algum dia eu vou entender que a vida não é só feita de feridas.

Algum dia eu vou entender para que servem as minhas várias cicatrizes, e vou entender também que meus erros, afinal, serviram pra algumas coisa.

Mas eu preciso me ater agora às coisas que eu entendo. Entendo que os tropeços me ensinaram a cair. Entendo que a vida já me machucou o suficiente para que eu não chore a cada falha.

Eu entendo que às vezes é necessário correr contra o muro, para se lembrar por que se deve parar antes de bater de cara. Entendo que meu coração só aprende em dor.

Começo a entender o curso da vida. Entendo que pouco entendo, e sei que nem eu ao menos, me entendo.

Nesse meio tempo, dar as costas ao conforto me reconforta, e não vou descansar até encontrar meu lugar.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Soletre Inevitabilidade



Melanie acordava às seis horas da manhã há pelo menos dois anos.

Allan acordava às oito.

Naquela época, Jasper acordava um pouco mais tarde.

Melanie preparava o café da manhã, o deixava intocado na geladeira e ia tomar banho. Ela não comia de manhã para não desperdiçar seu tão concorrido tempo.

Allan acordava e ia direto ao banheiro fazer a barba, que o deixava com cara de bêbado sem função.

Jasper tinha quem fizesse sua comida favorita todas as manhãs, e não se preocupava com quando ia tomar banho.

Melanie beijava suas duas filhas toda manhã antes de deixá-las para ir ao trabalho.

Allan não tinha fotos na estante, tampouco pessoas para se despedir. “Ainda”, como ele costumava pensar.

Jasper ainda vivia com seus pais, mas não prezava o fato exatamente como devia.

Melanie pegava um taxi até a sua empresa.

O taxi de Allan era seu trabalho.

Jasper não tinha porque trabalhar.

Melanie odiava seu trabalho. Ela ouvia tardes intermináveis de insultos e gritos, e todos gritavam com ela. Toda vez que ela decidia que ia largar tudo para o alto e ser pintora, ela ouvia a voz de suas filhas e pedia a si mesma para agüentar. Só mais um pouco.

Allan gostava do que fazia, mesmo que seu trabalho não abrisse espaço para todos os sonhos que ele tinha quando mais jovem. Ele já não tinha uma vida toda pela frente, e se conformava em ser feliz trabalhando e vendo os amigos às sextas, no bar perto de sua casa.

Jasper tinha vários amigos, e naquele dia em especial eles se reuniram na casa dele antes da cerimônia de formatura do colegial. Jasper não ligava muito para essas formalidades, mas esperava ansioso pela festa.

Melanie acabara de receber a notícia de que teria de estender seu período até o fim da noite.

Allan sempre trabalhava até que seus olhos se cansassem de prestar atenção aos carros mais próximos.

Algum dos amigos de Jasper trouxera uma caixa de cerveja.

Já era noite, e Melanie olhava desesperada para o relógio de minuto em minuto. Mais uma noite que ela não jantava com suas filhas. Mais uma noite em que ela choraria antes de dormir por não ser uma mãe presente.

Allan batia a cabeça no volante, enquanto nenhum cliente aparecia. “Ainda há tempo de viver minha vida”, pensou, e assim respirou fundo.

Jasper estivera bêbado demais para comparecer à sua formatura, e seus pais eram ausentes demais para notar isso.

Melanie foi dispensada.

Allan estava a ponto de chorar.

Jasper e seus amigos pegaram o carro.

Melanie correu para fora do prédio da sua empresa, e recorreu ao único taxi disponível àquela hora.

Allan abriu a porta para aquela moça simpática, e ia levando-a para seu destino.

Jasper decidiu mostrar à seus amigos o quão potente o carro de seus pais era.

Melanie não pode fazer nada se não gritar. Allan não pode fazer nada se não tentar desviar do carro descontrolado que vinha em sua direção. Jasper podia ter feito algo, mas não naquele momento.

Um garoto eternamente marcado pela culpa, um homem inválido e uma vida interrompida enquanto ainda havia muito a se fazer.

As filhas de Melanie sentiriam falta da sua mãe. Chorariam todas as noites a partir do dia que entendessem que ela morrera, mas acabariam por esquecer até mesmo os seus traços. Não era justo que Melanie fosse esquecida, mas assim seria.

Allan não poderia mais trabalhar, e o resto de sua vida melancólica seria em uma cadeira de rodas. Ele já não teria mais sonhos, não teria mais desejos, não teria ambições. Aos poucos ele perderia o contato com todos que amava, e cairiam no esquecimento. Não era justo que Allan fosse esquecido, mas assim seria.

Jasper sobreviveu ileso por fora, mas despedaçado por dentro. Mas ele nunca cairia no esquecimento. Ele sobreviveu para ser lembrado pelas filhas de Melanie e por Allan. Ele sobreviveu para ser lembrado, mas principalmente para lembrar. A cada noite, e a cada sonho suado ele lembraria que as coisas poderiam ter sido diferentes, ele lembraria que destruíra duas vidas, e tais lembranças o assombrariam para o resto de sua existência.

São detalhes que mudam nossa vida, e você nunca sabe o que pode acontecer. A única certeza absoluta nesses casos, é que você não deve em circunstância alguma beber e dirigir.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O Inferno São os Outros


Hoje eu estava pensando naquela famosa frase: “Sua liberdade termina onde a minha começa”.

Pra eu entender essa frase, eu tive que me submeter a algumas reflexões. “O que é liberdade”?

Muitos encaram a liberdade como o agir desprendido de restrições e regras, mas essa não é a real liberdade, a que vivenciamos. A liberdade é a existência de escolha dentro de determinadas regras ou restrições.

Às vezes eu mesmo me confundo com essa minha conclusão. Mas eu percebo as liberdades pessoais como coisas que coexistem e não como coisas que se limitam.

E de certa forma, o “homem foi condenado a ser livre”. Liberdade traz responsabilidade.

Nossas escolhas repercutem de alguma maneira em alguma coisa, sempre. As leis só cuidam para que nossas escolhas não influenciem na liberdade de escolha das pessoas que nos rodeiam. E é isso o que angustia o homem que se vê no constante estado de escolher, e o que o leva à inércia, mesmo esta sendo uma escolha – a escolha de não agir.

Infeliz (ou felizmente?), e obviamente as sociedades mais presas as regras são as que mais prosperam afinal as “limitações sociais” provavelmente foram criadas com o propósito de organizar e tornar uma ‘coletividade’ produtiva. O ser humano que tem o maior leque de escolhas tende a escolher o caminho errado. Que surpresa.

Eu me sinto incrivelmente contraditório quando eu me proponho a envolver-me nesses assuntos existencialistas. Eu acredito que o homem devia ser o mais livre possível, mas isso nunca vai ser uma realidade, já que o ser humano por natureza abusa de tudo que lhe é concedido.

Eu encaro o livre arbítrio como uma maldição. Eu posso dizer que eu gosto muito da minha liberdade limitada de escolhas, mas sempre vai ter gente que não vai saber usá-la. É aí onde entra os conflitos, a sede de poder, e o mundo repleto até a borda de lixo? Acho que sim.

Mesmo assim, o ser humano nunca vai estar em consenso enquanto não tomarmos todos as decisões corretas, e por que somos por natureza diferentes; Além do termo “existência” tenho lido bastante o termo “essência”, que implica na personalidade que vamos adquirindo, modificando e aperfeiçoando de acordo com cada uma de nossas decisões. E, bem, sempre tomaremos um caminho diferente do outro.

Então, até onde eu posso encarar que eu sou livre para fazer o que eu quero? Até onde eu posso usar, enfim, o termo “liberdade”?

O ser humano é livre por que ele detém o livre arbítrio?

Talvez essas perguntas não sejam tão importantes. Talvez o que nós devemos nos ater a pensar seja no que fazemos com nossa ilusão de liberdade, por que um dia inevitavelmente vamos ter todas as respostas.

Aliás, vamos?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Poema a um Cavalo



Eu não posso te ajudar, a não ser que você queira ser ajudado. Sua cura não se dá a partir de minha boa vontade.

Eu tentei, eu juro que eu tentei, mas talvez eu não seja forte o suficiente para cuidar dos meus problemas somados aos teus. Me perdoa.

Quisera eu te livrar da tua culpa, mas eu já me sinto culpado demais. Culpado por não ter conseguido te resgatar, culpado por não ter conseguido livrar-te de ti mesmo.

Mas eu não posso te ajudar, a não ser que você queira ser ajudado; E você não quer, o que faz de meus esforços meros pingos de suor derramados a troco de nada.

Um dia você vai encontrar alguém que saiba administrar duas vidas ao mesmo tempo, eu espero, mas eu não posso mais desperdiçar minha vida dessa maneira.

Foi bom te conhecer, mas eu tenho muito mais o que fazer.


"Nice to meet you, but i gotta go my way!"

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Shakira, o Furacão Colombiano



Shakira Isabel Mebarak Ripoll. Fala espanhol, inglês, português, arranha no italiano e no árabe, é loira, magra, contorcionista nas horas vagas, e atualmente diva do pop.

Eu não gosto mundo desse estereótipo, não. Essa raça na verdade devia ser exterminada a começar com Madonna, GaGa e Britney. Mas ainda bem que Shakira não é só isso.

Shakira além de dona de um vocal potente, ela dança, compõe suas músicas (em seus CDs lançados, com ao todo cerca de 110 músicas oficiais as exceções são “Long Time” e “Dia Especial”), produz seus CDs, está diretamente envolvida no processo criativo de seus videoclipes e tem um Q.I. de 140.

Quer dizer, pra alguém que não tá nem aí pra Shakira isso não importa nem um pouco. Mas são fatos que não são irrelevantes se compararmos ao lixo musical da atualidade. Os trabalhos dela são trabalhos que passam alguma mensagem, seja revolta, seja crítica social, seja amor, ou então seja futilidade calculada, mas ela sempre está no controle do que ela faz.

Mas eu queria dar um pequeno destaque a uma face da Shakira que poucos conhecem.

Shakira nasceu na Colômbia, Barranquilla em 2 de fevereiro de 1977. Barranquilla não é exatamente um lugar conhecido por sua paz e bom convívio. Ela só foi salva das drogas, violência e todos os riscos as quais ela podia ter se exposto graças à sua família incrívelmente bem-estruturada. E graças a esse ambiente hostil, ela amadureceu precocemente e quando ainda ela era criança, foi iluminada com o desejo de crescer, e poder fazer alguma coisa quanto àqueles que precisavam de ajuda.

Lançou dois CDs de relativo sucesso na Colômbia, mas que em resumo são queimação de filme total hoje em dia: “Magía” e “Peligro”. Mas então ela, no auge dos seus 18 aninhos, lançou “Pies Descalzos”, que foi um sucesso de imediato, ficando conhecida em toda América Latina e na Espanha.

Então ela deu o primeiro passo para realizar seu sonho de fazer a diferença: Ela construiu a fundação “Pies Descalzos”, com o simples objetivo ajudar crianças pobres.

Depois de lançar “Donde Están Los Ladrones”, e se consolidar como uma grande artista de Pop Rock Latino, seu sucesso ganhou dimensões mundiais ao lançar “Laundry Service” com o hit “Whenever Wherever”. Vieram “Fijación Oral” (mostrando que Shakira não esquecera suas origens) e “Oral Fixation” (para consolidar-se como uma das maiores artistas da atualidade com “Hips Don’t Lie”, música mais bem sucedida da década), e o atual She Wolf, onde ela adotou a imagem de americana loira e vadia, mas sem perder sua originalidade (acredite, ela fez disso possível).

Hoje sua fundação “Pies Descalzos” consiste em cinco escolas na Colômbia, que garantem educação às crianças desprivilegiadas, e mais do que isso: Garante moradia e emprego à suas famílias, e diversas atividades à parte da escola.

Shakira ainda é uma das fundadoras do “ALAS”, que trata diretamente de questões sociais ao redor da América Latina.

Recentemente Shakira se apresentou no teleton americano “Hope For Haiti”, ao lado de vários artistas (mesmo eu crendo que apenas ela e o Bono estavam por motivos genuinamente caridosos), e no dia seguinte ela já estava cantando no teleton latino. E além disso, ela mostrou seu comprometimento com a causa que ela tomou como sua, dizendo o próximo passo da fundação Pies Descalzos: Construir uma escola no Haiti.

Antes de eu saber de tudo isso, pra mim Shakira ainda era um artista com letras bonitas e um inglês às vezes equivocado. Mas quando eu soube disso tudo, ela se tornou pra mim um exemplo a ser seguido, eu comecei a enxergá-la como um grande ser humano. Se hoje ela tem o sucesso que tem (mesmo que não se compare com o de Beyoncé, Britney, e as modinhas da Disney) mesmo sendo uma latina (isso faz diferença nos EUA), é por que ela construiu sua carreira tijolinho por tijolinho, debaixo de sol e chuva, sempre humilde, deixando pra quebrar tudo mesmo só nos seus Shows.

Ela é daquelas que eu sei que vai ter uma carreira sólida até os 70 anos quando decidir se aposentar, por que ela não depende só do seu rostinho bonito ou do seu corpo perfeito. Apesar de que os quadris dela já ajudaram muito, afinal, eles não mentem, não é?

“I’m on tonight,
You know my hips don’t lie!”


Obs.: Hoje é dia 2 de fevereiro, aguém reparou nisso? Shakira completando 33 anos e eu me sentindo uma fãzoca emocionada dando pulinhos e gritando alegremente! Parabéns, Shakira!


Obs.2: Nós fãs da Shakira sempre fazemos uma série de projetos para o Aniversário dela ou só em datas aleatórias mesmo (eu sou novo, participei de só dois deles) como o #BrazilLovesShakira, o Baú Viajante, e atualmente o #HappyBDayShakira, uma campanha no twitter que chegou em 2° lugar nos Trending Topics! Sem contar a série de homenagens que nós mandamos para fazermos o seguinte site: http://www.shaki.com.br/ , e ali tem um textinho meu... Só clicar na minha foto.

Bem, o caso é que saiu nota sobre isso no site oficial da Shakira:


AAAAAAAAAAAH!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Arma de Alienação em Massa


O mundo sempre foi dividido entre os que manipulam e os que são manipulados, o que se repete na atualidade.

Não canso de dizer que estamos desaprendendo a pensar. Pra que pensar, afinal, temos quem pense por nós! A alienação é confortável, pois enquanto vivemos na ignorância não temos o que temer. O conhecimento traz, sim, responsabilidade.

Nos tempos modernos, a maior arma alienadora já criada está desempenhando bem o seu papel: A mídia.

A mídia nos dita o que fazer, como fazer e quando fazer; O que vestir e em que ocasião. E o que ainda me surpreende: Tem pessoas que fazem o que a mídia manda!

Eu vejo hoje vidas girando em torno da televisão, matando seus neurônios de graça, rindo de um humor deplorável e vivendo junto de personagens de tramas medíocres.

Não gosto de me deter em exemplos, mas não podia deixar a oportunidade passar:

O que vem a ser o Big Brother? Assumo que quando a televisão está ligada na sala, e eu não estou no humor para contrariar os que estão vendo, eu assisto. Mas não dá para entender como para algumas pessoas é sagrado acompanhar a vida de uma dúzia de animais de zoológico cujos músculos abafaram o cérebro.

A mídia há muito tempo deixou de ser uma ferramenta exclusiva de disseminação de informação, na verdade não sei ao menos se um dia já foi. Hoje o que vemos nos telejornais são versões distorcidas da verdade, e modificadas de tal modo que beneficiem alguns poucos. Vemos o que alguns querem que vejamos.

Seja politicamente ou financeiramente falando (ou de ambos os modos) sempre somos sutilmente (ou nem tão sutilmente assim) influenciados pela televisão, pelos jornais ou revistas, e nem sempre baseado em informações comprometidas com a verdade. Ligamos a televisão e o que vemos são programas sensacionalistas que aumentam os fatos que vêm a ser conveniente aumentar, e suprimindo o que é realmente importante. Mas estamos num estágio tão avançado de alienação que é isso que nos agrada; Ver selvageria, confusão, desgraça alheia, enquanto poucos se interessam realmente pela corrupção, ou quaisquer outros assuntos que deveriam ser do interesse de todos.

Por que vemos cada vez menos as pessoas lendo livros? Quais são as expectativas de sucesso profissional de uma pessoa dessas?

Mas antes ser analfabeto do que não ter uma televisão, não é mesmo? Quer previnir o suicidio coletivo de seus neurônios? O primeiro passo pode ser dado se você seguir um simples passo: Joga fora a tua televisão.

Eu não sei onde isso vai parar. Vejo cada dia mais surgindo novas tecnologias, muitas dessas da classe das que nos tornam dependentes.

O que eu posso concluir é que quando nos incentivaram a parar de pensar, demos o primeiro passo para gerarmos uma sociedade que não conseguirá fazer nada por si mesmo, nunca mais.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Conjugando o Verbo Mentir



Eu me sinto deslocado nessa peça de teatro que alguns chamam de vida. Talvez eu não queira ser mais um deles, vivendo suas vidas milimetricamente calculadas, sendo espectadores de seus próprios concertos.

Talvez eu não queira vestir a máscara que todos usam, talvez eu não queira ser só mais uma peça de um jogo, controlado por aqueles que sabem mentir melhor. E se eu quiser saber quem eu sou?

Talvez eu não queira saber mentir. E se eu não quiser mentir?

Eu tenho medo, tenho medo de ser a única pessoa do mundo que não sabe fingir. Tenho medo de não conseguir fazer a diferença, tenho medo de não conseguir gritar acima dos murmúrios da multidão.

Talvez eu não queira viver em um mundo onde mentir se faz necessário para sobreviver.


“Keep you in the dark, you know they all pretend.”

domingo, 24 de janeiro de 2010

O Fim do Gelo


É fato: O aquecimento global está derretendo as geleiras e as calotas polares. Mas ninguém imaginava que isso ocorresse com tanta rapidez.

Das mais altas montanhas aos pólos, o planeta vem perdendo o seu gelo permanente com velocidade incrível. Não surpreende o fato das geleiras estarem derretendo em virtude do aquecimento ocasionado pela emissão de gases, lançados na atmosfera causando o efeito estufa. O que intriga é que, nos últimos tempos, a redução do gelo vem ocorrendo em ritmo mais rápido que o progressivo aumento das temperaturas.

Os cientistas contestam que os mantos de Gelo são muito sensíveis. Em vez de sofrer derretimento lento e constante, parecem implicadas em um processo que se auto-alimenta, o que nos leva a crer, que por exemplo, a maioria das geleiras nos Alpes pode desaparecer até o fim do século.

È fato também que com o encolhimento do gelo na Groenlândia e na Antártica, a superfície dos mares subirá provavelmente até 6 metros, inundando regiões litorâneas e mudando totalmente as paisagens.

O clima da Groenlândia vem se tornando mais quente de modo perceptivo. No inverno, as temperaturas na estação de pesquisa científica de Konrad Steffen subiram cinco graus desde 1993.

No mar, as profundezas intermediárias do Atlântico também registram um aumento de temperatura da ordem de vários décimos de grau, de modo que todo o gelo flutuante da Groenlândia pode desintegrar-se.

Quando se olha para um mapa é fácil notar por que o manto de Gelo da Groenlândia é tão vulnerável: A sua extremidade meridional não está mais ao norte que Anchorage ou Estocolmo, locais onde não há geleiras. O gelo da Groenlândia é um resquício da última era glacial, sobrevivendo apenas por ser maciço o suficiente para produzir seu próprio clima.
No ar rarefeito dos Andes, não há duvidas; Ali, o destino do gelo é evidente. Uma comparação minuciosa revela que metade das geleiras dali sumiu nos últimos 20 anos, causada por uma seqüência abrasadora de El Niños, o fenômeno de aquecimento das águas do pacífico. Ele se tornou bastante freqüente com o aquecimento da atmosfera, e desequilibra o clima global, reduzindo muito a queda de neve nos Andes Tropicais.

Entretanto, especialistas afirmam que podemos estancar os problemas se acabarmos com o uso de combustíveis fósseis e carvão, ou os danos serão irreversíveis.


P.S.: Eu achei um punhado de trabalhos que eu fiz pro meu professor de Geografia, achei que cabia postar aqui... São coisas interessantes (ou não), mas tudo bem.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Revolta Pós-Moderna


Estou cada vez mais virando um adepto do ócio. Às vezes passo tardes inteiras jogado no sofá da minha sala com os pés pra cima, All Stars surrados, calças rasgadas e uma expressão de tédio no rosto, e isso já gerou comparações (errôneas?) ao grunge.

Toda a minha vida eu fui adorador do Rock Grunge, - meu computador é impregnado de Pearl Jam, Nirvana, dentre outros – e ultimamente (meio que involuntariamente) meu modo de vestir e de agir tem se modificado.

Acho que atualmente eu tenho entendido também o que significa o movimento grunge, e por que ele me tocava mesmo se eu entendê-lo perfeitamente.

Quando ele surgiu, estava meio implícito uma forte sede de ser livre, o que a época dos anos 80 pedia. As músicas eram impregnadas de questionamento, e até das que faziam pouco sentido se captava uma angústia oprimida, pedindo pra ser liberta.

O que eu mais gosto nas músicas do Nirvana, por exemplo, é o minucioso descomprometimento com a sociedade, e suas pesadas críticas a ela. They just didn’t care. Mas ao mesmo tempo em que aparentemente não se importavam com nada, ardia no seu âmago uma imensa vontade de sair por aí questionando as regras da sociedade, por que suas idéias deviam ser reprimidas, e por que o país deles era como era. Eles eram revoltadinhos mesmo, quando queriam, mesmo que geralmente isso pendesse pro lado da anarquia e a marginalização.

O movimento grunge foi revolucionário no sentido de “mudou alguma coisa”? Não... Mas poderia ter mudado muito.

Os caras-pintadas no Brasil, não são o símbolo de uma juventude reprimida que ansiava por liberdade? Aqueles caras tinham coragem, aqueles caras realmente foram revolucionários; Por que eles tinham muito que questionar, questionaram e causaram impacto. Mudaram alguma coisa.

Não seria ótimo na atualidade um movimento como esse? Uma juventude com cérebro instigada a pensar? Uma juventude preocupada com causas sociais? Uma juventude com garra o suficiente pra fazer alguma coisa?

Mas por que vemos cada vez menos protestos ou qualquer outro tipo de mobilização pública racionais? As que vemos hoje em dia são baseadas em praticamente nada e feitas com o objetivo de tumultuar, vandalizar. Por que a juventude de hoje é tão pobre em valores?

E olha que o que não falta no mundo hoje são coisas a serem questionadas. As pessoas não notam o poder que elas têm quando se unem.

Mas enquanto as pessoas não se tocam, eu sigo aqui, deitado no meu sofá tentando ser um grunge-poser, por que mesmo se eu tentasse ser grunge atualmente, ou pintasse minha cara e saísse pra rua, não ia adiantar em droga alguma.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A Filha do Vento



Em um momento ela estava ali, no outro ela já havia sumido. Ela costumava se esconder na planície ventosa no fundo do abismo que a separava de minha sanidade.

Ainda podia vê-la, rodando sua saia com seus cabelos misturando-se à noite, seu corpo à deriva como tudo à sua volta.

Eu queria gritar seu nome, mas eu já não lembrava mais dele, e os que me ocorriam soavam etéreos demais para ela que mesmo tão longe era tão real.

Ela ainda estava rodando sua saia quando choveu. E mesmo com o cabelo em seu rosto e as roupas pesadas, ela continuou dançando.

Sorri ao notar que não devia chamá-la. Pois sua vida sempre foi à deriva e sempre seria. Era ali onde ela pertencia, onde o vento nunca pararia de soprar.


“And so it is
just like you said it should be
we both forget the breeze
most of the time.”

sábado, 16 de janeiro de 2010

Quando se Quer Acreditar em Deus

Foto: Marcos Haas

Mais de uma vez ao abrir a porta de casa para a calçada, e sentir o ar frio no meu rosto e o vento bagunçando meu cabelo eu senti um aperto no coração. E então, com as barreiras da minha sensibilidade um pouco abaladas, vejo uma singela flor. Ela não tem algum cheiro que eu possa captar, ou uma beleza singular, mas é perfeita. Quem quer que tenha feito ela tinha bom gosto.

Então eu entro em conflito comigo mesmo. Como a natureza conseguiu fazer uma coisa dessas? Eu não consigo imaginar uma folha sequer como um tecido cuja função é fazer a fotossíntese.

Eu só consigo imaginar que o responsável por tudo isso é Deus.

Pra um garoto de 14 anos, eu sou bem resoluto acerca de minhas crenças: Sou espiritualmente independente. Mas às vezes parece que eu estou oscilando entre o Cristão e o Ateu.

Eu não deixo de pensar às vezes que é errado pensar o que eu penso, ser o que eu sou, eu não posso impedir aquela fagulha lá no fundo da minha mente dizendo “Converte-te”.

Mas antes ateu do que hipócrita. Minha mãe ainda diz pra eu visitar a igreja pelo menos um domingo por semestre. Mas será que isso ia me ajudar ou me fazer sentir pior? Eu ia me sentir um mentiroso, isso sim.

Tentando ser claro sobre o que eu acredito, eu acredito em um Deus. Não costumo chamá-lo de Deus, o chamo de “força superior”. Eu sei que algo a mais existe, mas não sei se existem palavras pra descrevê-lo. E também acredito que ele não influencia em quase nada na nossa vida.

Qual é a noção de acreditar em um Deus que está anotando tudo o que você faz ou pensa, e no dia em que morrer você vai ser julgado e mandado ou pro sofrimento ou pro ócio eterno?

Qual é a noção de acreditar em um Deus que vai fechar as portas do paraíso na sua cara, mesmo você tendo sido uma pessoa boa a vida inteira, só por que você deixou de ir na igreja ou por que você ama alguém do mesmo sexo?

Qual é a noção de acreditar em um Deus que é puro amor mas mesmo assim exterminou a humanidade na antiguidade com um dilúvio, destruiu colheitas, matou todos os primogênitos do Egito, e não cansa de dizer que a mulher devia ser submissa ao homem?

O pior ainda são argumentos de alguns fieis mais convictos (leia: fanáticos). Quando eu os questiono sobre o porque da fome na África, eles respondem que é um “teste divino”. Quando eu os pergunto por que Deus não simplesmente aniquila as pessoas más eles respondem que “Deus nos deu o livre arbítrio para fazer o que quiséssemos com nossa vida. Se há pessoas ruins, elas são ruins por escolha própria”. O mais foda ainda é quando há algum desastre natural, por exemplo, e eles não hesitam em dizer que é “castigo divino”.

Porra, que Deus é esse que não conjura comida pra uns pobres coitados que não fizeram nada de errado pra ninguém, mas deixa milhares de pessoas morrerem por que um dia alguém acordou com vontade de ver como a bomba atômica funcionava? Quer dizer que castigar é com ele mesmo, mas quando se trata de aliviar a dor ou proteger, ele não pode fazer nada?

Eu não sei se eu quero acreditar que Deus está guardando um lugar no céu pra mim por que eu fui à igreja todo o santo domingo, e então um dia eu levo um tiro na nuca e descubro que tudo o que eu acreditei a minha vida inteira foi uma mentira.

Preciso falar sobre a bíblia sagrada? Preciso falar que ela é uma compilação de informações convenientes para alienar os fiéis? Acho que não.

Acredito em Jesus. Acredito que ele existiu, foi um grande cara, falou coisas bonitas e que realmente acreditava ser o filho de Deus. Mas agora, se ele realmente era, e era capaz de realizar milagres, é uma coisa que eu duvido bastante. Até agora ninguém me deu uma prova razoável que me faça acreditar nisso.

Suponho que a religião é uma coisa necessária para a sociedade, para cada um de nós. Cada vez menos, já que eu vejo meus amigos com pensamentos semelhantes ao meus, e isso tende a crescer. Mas o porquê dessa necessidade eu não saberia explicar, sabendo que envolve raízes históricas e confins mentais mais complexos do que eu posso entender sem uma faculdade.

Não sei se me dá pena ver pessoas cegas por uma religião. Não sei se eu sinto pena de mim mesmo por não ter uma religião a qual eu me firme. Às vezes eu fico pensando, quando eu estiver no meu leito de morte, eu não vou ter esperança quanto reencontrar meus familiares e amigos que foram antes de mim... Eu vou encarar o fim da linha. Talvez eu vá ter uma surpresa boa no dia da minha morte, ou talvez não. Não vou saber até morrer.

Acho que invejo as pessoas que sabem, ou acham que sabem que vão pro céu. Acho que até o dia da minha morte vou acabar me convertendo. Tenho muito tempo para aprender sobre a vida, tenho muito tempo para solidificar minhas convicções.

Eu só quero ser livre para tomar decisões que fujam do padrão cultural sem ser condenado. Eu só quero ter certeza.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Razões Para Fazer a Minha Parte

Foto: Mariana Pasinato


Acordei com uma dúvida em mente. Essa dúvida em especial, parece que estava latente há algum tempo em minha cabeça, só esperando pra assumir controle dela e atormentar meu dia.

A primeira frase que proferi assim que acordei foi: - Quando raios o mundo vai ter paz?

Esse papo pacifista nunca foi uma característica minha, convivo muito bem com a guerra, já que vivo bem longe dela. Eu sempre deixei bem claro pra mim mesmo que eu não tenho como ajudar as pessoas que morrem de fome e eu não posso cessar a guerra com a minha boa vontade, então pra que ter boa vontade?

Eu não sou frio, ao contrário do que parece. Também não sou acomodado, tampouco cego. Sei que há muita coisa que eu podia estar fazendo, mas não faço.

Mas o problema é que mesmo se eu ajudasse os outros, mesmo se eu dedicasse minha vida inteira a ajudar gatinhos a sair de árvores, ou abrigasse quinhentas crianças desabrigadas no sótão da minha casa, eu não estaria fazendo o suficiente. Por quê? Porque as outras pessoas não fazem nada.

Sei que muitas pessoas que não se mobilizam, não se mobilizam com esse mesmo pensamento, e eu faço parte dos “outros” que deveriam desencadear a corrente da boa-ação pra elas. Mas não sou bom o suficiente, não sou forte o suficiente.

O que o mundo está precisando é de um choque de realidade: A gente não sabe se existe um paraíso, nós raramente conseguimos o emprego de nossos sonhos, nós nunca vamos casar com a Angelina Jolie e a guerra é a única verdade que o ser humano conhece desde os seus primórdios.

Em passos lentos, eu vejo que algumas pessoas estão suprimindo seus instintos selvagens com o passar do tempo, mas há outras não tão distantes que a instigam cada vez mais.

O papo político a seguir também não é característico meu, mas eu especulo que está por vir um líder que irá dar esse choque de realidade em nós. Precisamos de alguém com compaixão que consiga mobilizar as massas, que não esteja interessado apenas em benefício próprio. Usando uma metáfora questionável, precisamos de um ferreiro que não tenha medo de usar o fogo para transformar o metal em algo mais bonito do que uma espada.

Eu gostaria de citar Shakira, (parece uma citação meio estúpida nesse assunto, mas ela é incrívelmente sensibilizada quando se trata de guerra e miséria humana, e ela é uma das pessoas que fazem algo para o mundo melhorar) quando ela disse a seguinte frase no seu discurso em Oxford:

“This is the way I want young people of the year 2060 to see us: That our mission for global peace consisted in sending 30.000 educators to Afghanistan and not 30.000 soldiers.” (É assim que eu quero que a juventude de 2060 nos veja: Que nossa missão pela paz global consistiu em enviar 30.000 educadores ao Afeganistão e não 30.000 soldados.)

A gente consegue deduzir algo gritante no que ela disse: Educação é o primeiro passo. Concordo plenamente.

A primeira coisa que eu penso quando eu ligo a TV e vejo um repórter falando sobre um homem bomba, ou sobre um piloto que jogou seu avião contra o World Trade Center, é “Que gente ignorante”.

Se elas tivessem um pouco de instrução, se eles soubessem pensar por si próprios, eles não iam sacrificar a sua vida, nem que fosse pelo “bem maior”. Ninguém nasce destinado a morrer daquela forma. Não há Deus bom que mande seus fiéis se matarem e matarem milhares de pessoas. Ah, não precisamos ir tão longe para os países muçulmanos, é só dobrar a esquina. Não há Deus bom que mande seus fiéis enriquecerem seus pastores e passarem necessidade porque 10% do seu salário humilde tem de ser entregue a um homem que faz sua fortuna encima de pessoas ignorantes.

Ignorância é algo que me deixa profundamente irritado, porque eu sei que morrer ignorante é voluntário, pelo menos no Brasil. Eu não quero superestimar a educação nacional, mas eu posso dizer que há condições de uma pessoa completar o Ensino Médio, é só ela ter uma coisa que é rara de se encontrar no século em que a humanidade resolveu dormir até mais tarde: Determinação.

Mas o que eu sei sobre determinação? Aliás, o que eu sei sobre tudo isso que eu escrevi? Durante toda a minha curta vida fui um garoto mimado de classe média alta, que tive quase tudo o que quis. Não passei fome, não passei frio, não conheço a guerra. Mas talvez minha posição de observador tenha me propiciado essa visão que eu tenho agora, e me permita fazer uma previsão incerta:

Só teremos paz quando soubermos pensar sozinhos, quando desenvolvermos uma compaixão incondicional, quando pararmos de matar por um Deus ou quando TODOS pararmos de escrever textos bonitos, nos levantarmos da poltrona e ir lá pra rua, ir pra vida fazer algo que presta.

Dê uma olhada pra cada lado, sempre há algo a fazer. Tire os gatinhos de cima das árvores, bota o papel de bala no bolso e espera chegar em casa pra botar no lixo, não mate, não roube, seja paciente com os mais velhos, não beba e dirija, use camisinha, se drogue com moderação.

Exceto o último item, você já deve ter ouvido tudo isso na escola e não deu muita importância. Isso não traz a paz, traz? Mas à cada pessoa que segue esses conselhos estamos um passo mais perto dela.

Talvez a humanidade nunca veja a paz. Talvez a humanidade esteja fadada a perecer na guerra. Não que eu acredite em destino, sei que quem faz nosso destino somos nós mesmos, mas aí é que está: Nós escolhemos isso, e vamos arcar com as conseqüências se algo não for feito, e rápido.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

2010?!


Fala sério! Quer dizer que eu já vivi em três décadas diferentes? Eu já vivia bem complexado por ter nascido no milênio passado.

Acho que não tenho muito que esperar de 2010. Eu prevejo outro ano chato, com sonhos que não me vão deixar completar ou que eu não vou conseguir por mim mesmo.

Mas eu tenho que terminar meu livro. Faz três anos que eu ando trabalhando nele, mas apenas um que eu tenho escrito pra valer. Eu acho que isso já é mais do que eu posso planejar pra esse ano que recém começou.

Ah, e feliz ano novo pra todo mundo, mesmo já fazendo um tempinho que ele começou.

Não sei exatamente por que eu estou fazendo esse blog. Talvez seja uma imensa necessidade de me expressar, que eu não consigo saciar ao longo do meu dia. Puxa, prevejo tanta bobagem saindo dos meus dedos...

De qualquer jeito, Enjoy (;